Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá a falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
um oásis no recôndito da sua alma .
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um 'não'.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...
(Fernando Pessoa)
Autobiografia
... Nasci na encosta de um outeiro e fiquei dentre em pouco, um pinheiro delgado e elegante. Tão elegante que uma senhora, passeando com seus filhos por perto de mim, desejou-me para árvore de Natal.
Como ficaria lindo carregadinho de presentes e de doces, com velinhas de cores - exclamou uma das meninas que acompanhavam a senhora.
Estremeci até as raízes,pensando que logo me haveriam de arrancar para, no grande dia das crianças, ir adornar o salão de uma escola ou de uma casa abastada.
Passaram-se, porém muitos anos e ninguém veio buscar-me para a festa de Natal. Minhas raízes aprofundaram-se mais; meu tronco tornou-se alto e forte; esstendi para o céu ramaria possante, que as tempestades não puderam derrubar. Todos os anos as pinhas enfeitavam meus galhos e, quando amadureciam, aves, animais e homens vinham à minha sombra colher frutos, que se espalhavam pelo chão. Eu era a maior e a mais bela de todas as árvores daquela região.
Mas o dia funesto chegou. Um homem aproximou-se de mim, olhou-me com atenção de alto a baixo, e fez um sinal no meu tronco. Vieram depois operários musculosos, de machado em punho; e logo estava eu, deitado no solo, com os ramos partidos. Estava reduzido a um simples madeiro. - Eu, o rei dos vegetais de toda aquela redondeza...
Arrastaram-me, em seguida, para uma fábrica e reduziram-me a uma polpa branca. Nenhum dos camaradas me houvera reconhecido, quando, transformado em alvo lençol, sofria a última demão, a fim de aparecer no mercado sob forma de papel. Que torturas padeci: os golpes mortíferos do machado, o talho agudodas lâminas que me dilaceravam, o aperto horrível de engrenagens que me esmagavam, o atrito áspero de mãos que pulverizavam, o ardor das drogas que me fizeram pálido... Depois de tudo isso, colocaram-me em uma prensa, da qual saí para uma longa viagem.
Vendeu-me um negociante a um impressor. Fui para a tipografia, onde novas angústias me esperavam. Puseram-me em um prelo, no qual, em giros vertiginosos, palavras e gravuras eram sobre mim estampadas. Dobraram-me depois. Cortaram-me, coseram-me. Cobriram com duas capas de cartão. E eis-me aqui, agora, meu amigo, para ir contigo à escola.
Não me maltrates nem me desprezes. Muito sofri para trazer-te a sabedoria dos antigos, as lições da experiência, a expressão dos prosadores e poetas, que enriqueceram tua língua materna e fizeram meigo e suave o teu idioma.
AMA-ME E LÊ-ME; EU SOU O TEU LIVRO!
20 denovembro
DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA